Then you become a mother

“You think that true love is the only thing that can crush your heart….The thing that will take your life and light it up…Or destroy it. Then you become a mother.” ~ Meredith Grey, Grey’s Anatomy

Algumas amigas que ainda não tem filhos me perguntam, frequentemente, como é ser mãe. As mais corajosas até arriscam perguntar: “vale a pena passar por isso?”.

Bem, querida amiga (e leitora). Isso não é uma coisa tão simples de se responder. Você não me perguntou se “aquela sobremesa vale as calorias”. Então, vou tentar mostrar o meu ponto de vista em algumas linhas.

Um bebê é um ser fofinho, desenhado biologicamente para parecer frágil e adorável ao mesmo tempo, a fim de que você tenha instintos cuidadores ao colocar os olhos nele. Deixando a visão darwiniana de lado, esse ser adorável e de grandes olhos observadores chora um bocado. Afinal, ele ainda não fala. A única forma que conhece de se comunicar é o choro. E isso vai te enlouquecer às vezes.

Ele vai chorar quando tiver dor de barriga, vai chorar quando você for trocar a fralda, vai chorar para entrar no banho e para sair do banho. Ah, vai chorar, também, quando acordar de madrugada.

E você, por consequência, vai chorar no chuveiro, no quarto, na cozinha, no berço do bebê quando ele acordar de madrugada, tudo, de preferência, sem o marido ver. A gente sempre tem a impressão de que homem nunca vai entender esse sentimento de completa incompetência que temos com um bebê novinho, que não para de berrar.

Quando fui à obstetra tirar os pontos da cesariana, após uma semana do parto, desandei a chorar assim que entrei. Ela me olhou calmamente e disse, com sua voz pacificadora: “não se preocupe, pode chorar. Nove em cada dez mães que vem aqui pra eu tirar os pontos fazem isso”. Não foi, exatamente, confortador, mas me ajudou a me sentir menos dramática.

Ah, eles também fazem cocô. Uma quantidade absurda e sobrenatural de cocô. Cocô em jatos. Melhor sair da frente e deixar aquilo acertar a parede! Você aprende até a prever quando esses jatos vão ocorrer. Isso! Porque você começa a entender as expressões faciais do seu cagãozinho! O Theo fazia uma cara de extremo esforço quando ia fazer isso. Dava uns 3 segundos pra gente se preparar.

Sim, você vai perder várias noites de sono. O cansaço vai ser o maior que você já sentiu. Sua barriga vai cair (mas, isso, eu prometo que tem solução!). Você vai chegar a se questionar se o hospital não aceita devolução de bebê.

Você vai perder sua liberdade, já que as suas saídas estarão condicionadas à última vez em que o gordinho mamou. Você vai odiar o marido cada vez em que ele te ligar, no fim da tarde, para avisar que vai a um happy hour da empresa.

Daí, quando você achar que está perdida num mundo paralelo onde só existe cocô, e que seu novo perfume é de leite azedo, seu bebê vai começar a sorrir e a balbuciar. Ah, esses danadinhos! É tudo friamente calculado! É um plano maquiavélico pra você não desistir dele tão fácil assim! Você ouve aquele choro de madrugada, levanta meio zumbi, chega ao berço meio nervosa e dá de cara com aquele baita sorrisão banguela. É ou não é maquiavélico?

Daí, você volta a reclamar porque não pode mais acordar tarde aos sábados, comer na hora em que quiser, ou fazer miojo porque acabou a comida e você não quer ir ao supermercado. E que as viagens a dois, agora, vão ficar mais raras e muito, mas muito mais planejadas.

E, nesse ponto, os sorrisos do seu banguelinha viram gargalhadinhas deliciosas. E ele aprende a pedir o seu colo. A levantar os bracinhos. E, depois, começa a treinar uns beijos, de boca aberta, na sua bochecha. Nem um beijo do Brad Pitt seria tão gostoso quanto esse beijo de boca aberta cheio de baba.

E vai ter vezes em que o pai dele vai chamá-lo pra ir no colo e ele vai grudar no seu pescoço. Nesses momentos, você fica ali, toda inflada no seu orgulho de mãe. E é aí que você vai entender que ninguém te ama mais, nesse mundo, do que aquela criaturinha. É, nesse momento, que você vai entender o que é amar de verdade. Um amor que dói no peito, que consome, que cresce a cada mês junto com aquele bebê.

E você vai perceber que a dor que sentiu, na adolescência, quando sofreu bullying por ser gordinha ou usar óculos, não é nada perto da perspectiva de que isso aconteça com o seu bebê. E isso vai fazer com que você seja capaz de qualquer coisa pra que ele seja feliz, aceito e bem tratado.

E as dificuldades dele serão suas. E você vai aprender a ser mais tolerante, paciente, e a ver beleza em coisas inimagináveis. E cada vitória dele vai ser sua também. Cada conquista mínima vai ser como vencer a segunda guerra mundial.

E, no futuro, eu posso imaginar você, velhinha, sentada ao lado da árvore de Natal, observando a família se juntar para a ceia. Você vai respirar fundo, passar as mãos nos cabelos brancos e pensar: valeu a pena cada noite sem dormir, cada jato de cocô e cada dor compartilhada.

29 thoughts on “Then you become a mother

  1. E não é que é assim mesmo?
    Ser mãe, em uma só palavra, pra mim: INTENSO. É uma rotina pesadíssima, mas vc tem 1000% de razão quando diz que vale à pena cada segundo e que aquele sorrisão babado e bangela compensa tudo.
    Beijo grande.

  2. Déa, ser mãe é isso mesmo… você conseguiu colocar em palavras esse sentimento tão forte, intenso, um amor que parece que não vai caber dentro de nós.
    Parabéns pelo seu blog!
    Beijos

  3. Oi, eu conheci o teu blog atraves do blog janelinha para o mundo.Estou lendo muito o teu blog, pois parece que estou vendo o meu filho ai, ele esta com suspeita de autismo tambem, na quarta vai passar pelo neuro e eu estou desesperada de medo, o meu filho é exatamente como o seu, a unica coisa diferente é a fixação por rodinhas, que ele nao tem, ele é muito esperto em computador, mais socialmente nao.Ele tem mudado muito algumas caracteristicas, ele ja nao se isola mais, quando vamos a pracinha prefere ficar com as outras crianças do que sozinho, ele nao entende varias coisas que pedimos.eu estou profundamente perdida, nao sei o que fazer.

      • Muito obrigada, eu li agora, estou na expectativa da consulta de amanha, aff nao consigo pensar em outra coisa.Na ultima consulta da fono ela me disse que ele nao tem apenas um atraso na fala, disse que tem algo a mais que ainda vao descobrir, ela disse isso porque ela perguntou o nome dele e ele nao soube responder, nem as cores e nem onde esta o nariz a boca dele.Quando cheguei em casa comecei a tentar ensinar tudo isso pra ele, e graças a deus esta aprendendo, ele ja pede agua, suco coca, um monte de coisas usando a fala, mais nao forma frases e nao responde perguntas.Eu pergunto cade teu pai? e ele responde a mesma coisa só que na lingua dele, tudo embolado.Outra coisa que ta me deixando louca: o desfralde ele ja faz no vaso, mais é so quando eu o levo, ele nao pede eu tenho que ficar adivinhando quando ele vai fazer.Acho a tua atitude de criar um blog para falar sobre teu filho muito boa, é uma grande ajuda a nos maes, desde que notei que meu filho nao esta desenvolvendo normalmente, que minha vida tem sido tentar ensinar e justificar tudo, e me culpar e chorar…Que deus abençoe nossos meninos, se eu pudesse eu daria a minha fala pro meu filho, ja pedi a deus tanto pra ajudar ele, que até sonho com meu filho falando.

      • Fernanda, querida, culpa não leva a lugar alguma. E não faz seu filho melhorar também. O que faz isso é trabalho duro. E, olha, pelo que você me falou, se for alguma coisa, não vai ser um caso grave. Fique mais tranquila. Eu prometo que as coisas vão melhorar. Se precisar, você tem o meu email aí. Vá me dando notícias, ok?!

        Um beijo

  4. Minha mãe viu o video na sexta e mal dormiu de sexta pra sábado. Chorou. Se sentiu culpada por não ter lido mais e talvez ajudado um diagnóstico ainda mais precoce pro JP. Falei: ” Mãe, não esquenta… Divulgue. É o melhor que temos a fazer agora!”
    Mãe é isso e mais um pouco… até o fim de nossas vidas…. ou delas.
    E o amor é lindo. Mas o de uma mãe, é imensurável. S2
    Bjs pra vcs!

  5. Andréa a Carol tem um irmão gêmeo, o Arthur e cada minuto que passo ao lado deles vejo como valeu a pena a maternidade, pois Deus colocou ele na nossa vida para ajudar-nos a ter forças para cuidar, amar e aceitar a Carol como ela é.
    Parabéns pelo artigo!

  6. É exatamente isso! Um plano maquiavélico muito bem elaborado!
    Tão bem elaborado que quando chega a parte dos sorrisinhos não só esquecemos tudo que aconteceu antes (e durante!) como ainda somos capazes de repetir a dose…

  7. Andreia, sou mãe, avó e psicologa, no inicio da minha profissão quando foi escolhida pela minha primeira cliente (10) percebi que especial é aquele que tem a oportunidade de estar em contato com pessoas tão especiais, não pela deficiência ou síndrome e sim pelo que eles doam diariamente, amor carinho etc cristalinos e desprovidos de preconceitos , criticas ou qualquer outro sentimento negativo, que algumas pessoas que se dizem normais expressam sem o menor cuidado. E por conta dessa cliente especial, ate hoje trabalho para clientes especiais sendo o maior foco AUTISTA.
    Parabéns pela dedicação, e saiba que especial não é a criança e sim a mão que o recebe de braços abertos.

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